29 de outubro de 2014

Falo o que quero, ouço o que não quero #1 - A ressaca maldita das eleições presidenciais.



Parecia que não acabaria mais, que nossas vidas se resumiriam a aquilo por anos a fio, pois foi difícil, foi dolorido, e extremamente cansativo.  No entanto, até o mais perverso mau, um dia deve chegar ao fim. Contudo, algumas pessoas parecem não perceber que o fim já aportou. Mas isso é assunto para mais adiante.


Nos últimos meses, passamos por uma campanha eleitoral exaustiva, ao menos para mim. E antes que pensem coisas ruins a meu respeito, deixe-me esclarecer: eu não fiz campanha política este ano. Isso mesmo! Eu não defendi nenhum candidato, não procurei cooptar eleitores e nem discuti quem era o melhor (ou menos sujo) com meus amigos. Mas o que foi tão exaustivo?, você deve estar se perguntando. Pois bem, eu explico. Foi extremamente exaustivo aguentar toda a euforia descontrolada dos eleitores ao meu redor, e foi desanimador ver o quão vazia era a motivação de cada um deles.

Desde o início da campanha, presenciei o país dividido, onde cada grupo se agarrou a um projeto político distinto. Isso já era ligeiramente incômodo, pois as postagens excessivas, pouco fundamentadas e com sintomas de fanatismo eram o que dominava. No segundo turno, porém, tudo foi elevado a níveis bem mais nocivos.

Ver amigos mudarem suas fotos de perfil para montagens incluindo as cores dos partidos e as inscrições “Dilma 13” e “Aécio 45” foi algo lamentável, que reforçou minha crença de que o mundo precisa de um novo dilúvio, para ontem, de preferência sem a presença de humanos na Arca. Mas como está difícil achar água, acho que teremos que esperar mais um pouco, ou talvez torcer para que a renovação venha em fogo, e queime a estupidez e a hipocrisia que já saturam a atmosfera terrestre. [Acho que divaguei]

O importante é que vi pessoas boas, pessoas inteligentes, pessoas agradáveis; vi um monte de pessoas perdendo seu senso crítico e, em muitos casos, perdendo o senso do ridículo. Pensemos sobre o assunto. Eu não apoiei nenhum dos candidatos concorrentes no segundo turno, e manifestei minha opinião nas urnas. Ainda que o voto seja secreto, não me traz constrangimento algum dizer que votei em branco. Sim, em BRANCO! O que não significa que condeno quem votou na Dilma, tampouco quem votou no Aécio. Cada indivíduo tem seus motivos e suas convicções, e deve ser respeitado plenamente. O que me incomoda e continua me incomodando, já que as pessoas ainda não perceberam que as eleições chegaram ao fim, é a atitude impensada desses eleitores.

Num primeiro momento, presenciei uma enxurrada de postagens de ambos os lados, na maioria dos casos os militantes se limitaram a apontar os “pecados” do lado oposto, como se o voto fosse contra algum candidato, e não a favor. Os comentários trouxeram discussões homéricas, onde as partes simplesmente não analisavam os argumentos contrários. Cada grupo agiu com uma fé cega, como se seu candidato fosse um político imaculado, enquanto o outro, um lixo.

Agora, que graças ao bom Deus as eleições terminaram, as pessoas continuam agindo como idiotas. Um grupo está comemorando como se nosso povo tivesse sido libertado de uma violenta ditadura, e o outro como se Jesus tivesse voltado e o tivessem crucificado novamente.

Analisemos os fatos. Aqueles que querem separar o Brasil do nordeste, alegando ignorantemente que os nordestinos elegeram a Dilma, acham mesmo que Aécio Neves é um novo messias? Acham que a corrupção exacerbada que assola o país há mais de 500 malditos anos simplesmente vai sumir ao seu toque divino? Acham o que PSDB é sinônimo de moralidade? Bem, eu não acho. Um novo governo, por um partido diferente, possivelmente traria mudanças, talvez para melhor, talvez para pior, mas a verdade é que a maioria das coisas não iria mudar. O pobre continuaria pobre, independente do que os métodos viciados de apuração apontassem. As ruas continuariam violentas, a saúde pública continuaria precária, e a educação continuaria fictícia. Simplesmente porque o capital manda, o presidente não.

Por outro lado, aqueles que têm comemorado a reeleição da atual presidente, cantando hinos de amor a ela — algo que eu acho igualmente idiota — acham mesmo que o Brasil está avançando a passos de gigante? Acham que a população está vivendo melhor? Que a saúde pública é de qualidade? Que a educação forma cidadãos esclarecidos e conscientes? Eu acho que não, e a enorme quantidade de manifestações preconceituosas que explodiu após os resultados da eleição são uma prova que nosso país não forma cidadãos conscientes.

Nos últimos dias, bloqueei uma meia dúzia de “amigos” no facebook, pois minha timeline estava entupida de comentários nada inteligentes, irritantes, e estúpidos, o que me faz lamentar a ignorância alheia; me faz triste ver o país que amo habitado por idiotas completos e que as pessoas não entendam que quem faz um país é seu povo, e não seu governo.

Mas estou tranquilo, pois sei que, assim como as manifestações pré-copa, esse movimento separatista é fogo de palha, e daqui alguns dias, as pessoas que hoje se manifestam agressivas e preconceituosas já não se lembrarão da babaquice que ostentaram publicamente. No próximo carnaval, todos aqueles “sulistas” que agrediram o norte e nordeste do país estarão embarcando para as praias nordestinas onde acompanharão trios elétricos lotados, se esfregando indiscriminadamente no povo que hoje agridem ignorantemente.

Eu sonho com um país onde as pessoas terão clareza sobre o que acontece ao seu redor, que olhem para o seu próximo e entendam que isso é verdade, e não aquilo que suas telas de LED lhe mostram dia e noite. No entanto, esse dia não é hoje, e não será amanhã. Só espero estar vivo para ver nossos irmãos e irmãs usarem da inteligência que lhes foi presenteada pelo criador. Enquanto isso, tentemos viver com lucidez e não nos contaminar com toda essa ignorância e estupidez.

Por ora, é isso que tenho a dizer. Aqueles que se sentiram ofendidos saibam que atingi meu objetivo, é para que se sintam exatamente assim. Aqueles que entenderam o que eu quero dizer sintam-se abraçados.

Beijos, e tchau!



2 comentários:

  1. Para mim, seu texto é perfeito. Fiz o mesmo que você quanto à timeline do Facebook, porém, não com todos que eu desejava. Uma ou outra postagem eu ainda via sobre as acusações de um candidato ao outro.

    Cheguei até a compartilhar uma sobre o porquê de não votar na Dilma, porém, não com o intuito de promover o Aécio, mas sim apenas para expressar que antigamente a gente podia comprar muito mais no mercado com uma determinada quantia em dinheiro. O que aconteceu? Uma pessoa chegou nos comentários já querendo falar que eu estava totalmente errada quanto o que havia na imagem compartilhada. Isso me passou a impressão de que queria mostrar que eu não entendia nada do assunto. De fato, não entendo de economia mesmo (eu odiava essa matéria no 1º ano de Publicidade e Propaganda que fiz)... Eu entendo da prática, do que vejo... Falam tanto dos programas que ajudam o povo... Meu pai trabalhava em um único emprego e ajudava minha mãe no sustento da casa. Vivíamos bem. Hoje eu trabalho em dois empregos pra poder ter uma parte do que meus pais tinham.

    Enfim... Falei tudo isso porque teve muita gente defendendo com unhas e dentes seus candidatos na net, às vezes perdendo amizades por isso, achando que números realmente mostram a verdade do país.

    Bom, vou finalizar aqui... Tô começando a me perder nos pensamentos e isso aqui vai ficar uma bagunça XD

    Mais uma vez, perfeito o texto. São palavras que eu gostaria de ter colocado no meu Face ao longo da campanha.

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    1. Também aconteceu comigo, postei alguma coisa sobre os deslizes da Dilma no debate, quando mandou a economista fazer o Pronatec, e logo apareceu um "Dilmista" falando mal do Aécio e do PSDB, como se eu os tivesse defendendo. Obrigado pelo seu comentário, esse sim está perfeito.

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