Emmeline era
apenas uma criança quando seu tio a assediou pela primeira vez.
Acostumada a
ter os pais distantes, que trabalhavam para poder proporcionar um futuro
financeiro melhor para Emmeline, ela ficava constantemente aos cuidados de Tio
Billy, irmão de sua mãe, seu padrinho e, diga-se de passagem, seu melhor amigo.
Emmeline mantinha
uma amizade forte com o tio, construída em base de muita afeição, confiança e
carinho, coisas que ela carecia da própria família. Mas todos os seus laços
afetivos com o tio passam a se dissipar quando Tio Billy começa a agir de
maneira estranha com ela, dizendo e fazendo coisas que ela não gostava e que
faziam-na se sentir desconfortável e suja.
E, com o
passar do tempo, Emmeline vê que Tio Billy, na verdade, não é quem ela pensava
que fosse, e o amor que nutria por ele se transforma no mais puro medo.
Editora: Independente
Gênero: Drama
Páginas:
81
Há leitores que facilmente se amedrontam com cenas
sangrentas e violentas; outros tremem de medo ante o horror psicológico que
pode ser mais brutal que todos. Particularmente, histórias de horror nunca me
assustaram, nunca provocaram medo. Se bem feitas, podem me causar tensão, mas,
ainda assim, beiram bem mais para o divertimento, posto que sou um amante de
coisas sombrias e angustiantes. Contudo, alguns temas conseguem me assustar
bastante, e um dos mais intensos e apavorantes é o abuso sexual infantil; esse
é o tema de “Lágrimas de Emmeline”.
Com um aviso logo no início do e-book para que pessoas mais “sensíveis”
pensem duas vezes antes de iniciar a leitura, “Lagrimas de Emmeline” descreve a
jornada da pequena Emme na vida, e como ela se tornou vítima de abuso. Apesar
do aviso inicial, e mesmo que trate de um temo pesado — muito pesado —, aqui
Gabriella Regina narra tudo com muita sensibilidade e habilidade. Desde o
início, é fácil gostar de Emmeline; na verdade, é quase impossível não gostar
dela. E tudo acontece gradativamente. Na inocência da criança, ela não percebe
o que de fato está acontecendo, o que dá mais realidade à trama, mais verossimilhança
e mais empatia por parte do leitor.
Contudo, trata-se de um drama forte, e Gabriella vai te
bater, e bater muito forte, não vai parar até que você esteja no chão, chorando
e pedindo por arrego. O primeiro golpe é a forma como o abusador é introduzido
na história. A autora mostra o que Emme vê, a face mais bela do vilão, fazendo
com que nos apeguemos também a ele, para logo em seguida nos mostrar sua
verdadeira face. Tio Billy é o porto
seguro da menina, a presença reconfortante que os pais não são capazes de
protagonizar. E quando esse mesmo tio amoroso e protetor faz rolar a primeira
lágrima de Emmeline, é um golpe duplo no leitor.
Durante muitos anos, acompanhamos o crescimento de Emme,
seus dramas e inseguranças, a carência afetiva que sofre pela distância dos
pais e presenciamos como Billy age, suprindo seu prazer e ainda fazendo a
sobrinha acreditar que tudo está bem, que ele a ama e só quer protegê-la e
fazê-la feliz. A sensação de impotência diante do que acontece salta das
páginas e se arraiga no coração do leitor, provocando grande angústia, mas
também tornando impossível abandonar a leitura.
Gabriella soube como narrar sem excessos. Ela não poupa o
leitor da verdade, mas também não tenta chocar com exageros. A autora sabe a
história que está contando e que os fatos por si só são suficientes para
machucarem qualquer um que tenha um coração pulsante no peito. À medida que o
livro avança, ficamos cada vez mais íntimos de Emmeline, e sua dor é cada vez
mais a nossa dor.
A escrita é simples, sem floreios desnecessários,
extremamente fluída e consegue ser doce e brutal ao mesmo tempo. Os personagens
são bem construídos, com diálogos verossímeis e situações que qualquer um pode
reconhecer. O desfecho é preciso, sabendo que uma história como essa não
suporta finais felizes, pois as feridas a que somos apresentados são do tipo
que jamais cicatrizam totalmente. Mas, ainda assim, é belo e satisfatório.
Após o término da história, uma nota da autora dá um recado
importante sobre a “cultura do estupro”, evidenciando algo que deveria — mas
infelizmente não é — absolutamente claro para todos: A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA.
Gabriella mostra mais uma vez seu talento e sua
versatilidade na literatura, com uma história tocante, intensa e dura.
Leitura super recomendada.
Saiba mais sobre a autora e suas obras em: http://pandorafairel.com/
Senhor, eu estou é MORTÍSSIMA com essa resenha!
ResponderExcluirO que mais me deixou contente, acima de tudo, foi o fato de você ter sacado o ponto da história perfeitamente bem. Muitos leitores ficaram sem entender algumas coisas, a olhar a história mais com os próprios olhos e não com os olhos da Emmeline, e isso acabou comprometendo a visão deles sobre a história como um todo. Mas contigo foi diferente, e isso me deixa MUITO feliz!
Muito obrigada por essa resenha maravilhosamente incrível! <3
Apenas escreva mais, muito mais. Pois quero tudo.
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