Bom dia, criaturinhas de Deus (ou
do outro)!
Hoje, depois de um hiato maior
que os juros da dívida do governo, voltei com não uma resenha, mas quatro. Isso
mesmo! Quatro resenhas em uma. Tá certo, tá certo, são contos, então são
resenhas menores. Contudo, esses contos são uma ótima oportunidade para
conhecerem o talento do inoxidável, tanto no pessoal quanto no profissional,
Baltazar de Andrade.
Vamos lá!
A Última Espada de Ogum
26 páginas
Sinopse: Samuel é um
respeitado antropólogo, quase em vias de terminar seu doutorado, trabalha para
uma emissora de televisão com seu melhor amigo. Artur é um repórter um tanto
pessimista, que fica indignado quando o mandam para a África cobrir uma
descoberta arqueológica que pode mudar os livros de história. Quando os amigos
chegam a Luanda e veem o que lhes parecia apenas um enfeite de portão, suas
convicções são postas à prova.
Artur, atingido por um raio, é possuído pelo deus das tempestades, o
orixá do trovão: Xangô. Agora Samuel terá de cruzar o continente africano e
enfrentar seu melhor amigo para livrá-lo da influência divina e salvar ambos de
um fim prematuro.
Até que ponto nossa essência se une ao imortal?
Novamente, Baltazar de Andrade
mostra seu talento e ecletismo ao apresentar um conto contemporâneo que se
utiliza da cultura africana de uma forma linda. Aqui, se humanizam as
divindades, a partir de sentimentos como amor, ódio e arrependimento, além do
desejo de vingança tão comum à nossa espécie. A torrente de sentimentos
protagonizada por Ogum, Oyá e Xango é um reflexo do que acontece com a nossa própria
raça todos os dias em algum lugar do globo.
O segundo núcleo, protagonizado
por Samuel e Arthur, inicia em uma situação comum, longe de qualquer aspecto
sobrenatural. Quando os eventos que fogem à sua compreensão começam, presenciamos
a transformação de um personagem, onde afloram os sentimentos mais nobres, que
podem fazer um homem ultrapassar os limites que acreditava possuir.
O desfecho é muito bem pensado,
as coisas se encaixam com harmonia e há uma sábia moral ao fim de tudo, mesmo
que o leitor mais distraído não perceba, ou não se importe. Um texto bem
escrito, com uma evidente pesquisa da mitologia muito bem feita e utilizada na
medida certa. Adorei a leitura, não só por ter sido transformado em personagem
pelo meu amigo Baltazar, mas por conhecer um pouco mais sobre uma cultura da
qual nada sabia e por ter em mãos mais um texto delicioso de se ler.
Divã Vazio
17 páginas
Sinopse: Poderíamos conviver
com a loucura dos outros? Até os terapeutas às vezes precisam se livrar de toda
a carga emocional que acumulam com diversos pacientes. Mas até que ponto isso
seria possível? Cuidado, pois ao contrário da lucidez, esses pensamentos são
bem contagiosos.
Divã Vazio é um conto cotidiano,
mas que não é nada comum. Acompanhando a rotina de um terapeuta, a história nos
brinda com situações curiosas, com uma narração em primeira pessoa muito bem
feita, uma verdadeira crônica da loucura dos nossos dias. O protagonista é uma
figura muito interessante, e o modo como ele vê o mundo e as pessoas ao seu
redor, bastante peculiar.
Conforme a trama se desenrola,
nos encontramos com diversos personagens, cada qual com sua peculiaridade que o
deixa mais interessante. Baltazar faz um panorama do comportamento humano
utilizando de situações cotidianas comuns e incomuns, para nos conduzir a um
desfecho surpreendente.
Uma leitura divertida e
instigante.
A Noite Mais Fria
5 páginas
Sinopse: Alana mora na rua
com a mãe, conhece a miséria amarga que é esfregada à força na pele, até estar
tão entranhada que não se diferencia mais da vida. As ruas de Curitiba se
mostram um carrasco inescrupuloso para a menina, que descobre desde cedo o
abuso e a indiferença. A falta de um abrigo, um aconchego quando a noite chega,
a faz devanear sobre seus sonhos. O retrato do abandono que estampa os rostos,
antes inocentes, mas que agora carregam o peso das decisões alheias.
A Noite Mais Fria é uma história
cortante, desconcertante. Baltazar consegue transmitir sensações intensas em um
texto curtíssimo, mostrando toda sua habilidade com as palavras. Inspirado em
um evento real ocorrido em Curitiba, o conto é um soco no estômago, que dói e
deleita ao mesmo tempo.
O uso de drogas pesadas e suas
consequências são evidenciados com sabedoria, sem necessitar de muita
informação para que tudo fique claro. Tudo é muito verossímil e narrada de uma
forma que chega a ser poética, ainda que em prosa.
Um texto muito sensível.
A Corrente
9 páginas
Sinopse: A loucura afeta a
todos nos campos de batalha, recaindo ainda mais sobre a cabeça dos
supersticiosos. Durante a Segunda Guerra ela se entranha na mente de um homem,
Fernão Bugre. A corrente não deve jamais ser quebrada.
Um conto que traz um aspecto da
guerra interessantíssimo, a psique daqueles que atuam cara a cara com a morte.
Um mergulho na mente supersticiosa de um militar, onde nunca sabemos o que é
loucura e o que é sabedoria. Uma história com uma escrita gostosa e com um
ótimo ritmo, como um Recruta Zero 1000 vezes mais cerebral.
É isso, pessoal. Conheçam mais do
trabalho do Baltazar AQUI.
Autor meia boca esse...
ResponderExcluirPara de julgar o resenhista. Ele escreve por hobby.
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